
Fábrica de emoções
Tribuna | 26 de abril de 2013 | Foto: Marco Charneski
É real a história da moça que se apaixona pelo rapaz do circo e larga tudo para seguir com ele na vida itinerante. Foi exatamente assim que a vida da fotógrafa Maria da Graça de Aguiar Loeza, 59, mudou depois que o circo visitou a cidade de Santa Cruz do Sul (RS), onde morava há quase 39 anos. “Meu pai alugou algumas casas para famílias circenses e em uma delas ficaram três mexicanos. Me apaixonei por um deles”, conta ela, que trabalhava em uma empresa de cigarros. Esta é uma das histórias que os Caçadores de Notícias encontraram no Circo Stankowich, que está na capital, ao lado do estádio do Pinheirão.
Em seis meses, Graça estava casada e partiu com o circo. Tempos depois nasceram seus três filhos. “Cada um nasceu em um lugar diferente, no Rio de Janeiro, São Paulo e no Rio Grande do Sul. Também sei onde cada um foi gerado”, brinca. Foram dois anos de adaptação ao novo ritmo de vida, além de trabalho no picadeiro e em outros setores. “Me encantei, aqui é uma escola, aprendemos várias lições de vida. O circo é magia”, garante. Sua irmã gêmea, Maria de Lourdes de Aguiar Lenz, também se encantou com o ritmo de vida circense e acompanha algumas viagens de Graça. “Adoro esta vida itinerante, sempre em lugares diferentes e sem rotina”, diz ela, que ainda mora no Rio Grande do Sul.
Entre cerca de 30 trailers e 20 carretas, moram quase cem pessoas que cruzam o País em uma cidade sobre rodas. Enfileirado, o comboio chega a mais de 300 metros. No acampamento, o dia tem ares de um condomínio comum, com crianças indo para a escola e mulheres cuidando da casa, mas de noite tudo muda na preparação para o espetáculo. “Todo mundo vira artista. Aqui é uma fábrica de emoções”, afirma o responsável pela unidade do circo que está em Curitiba, Marcio Stankowich, representante da sétima geração da família circense.
De família
Entre os três filhos de Graça, um deles não resistiu ao amor pelo circo. Aos 18 anos, Moyses Julian de Aguiar Loeza, 35, trocou o que aprendeu nos cursos de informática e administração para fazer aquilo que gostava. Hoje ele é uma das principais atrações do picadeiro, interpretando o Homem Pássaro e o Homem Aranha. “Não tem como fugir, isso nasceu comigo”, diz. Assim como os pais, Loeza também fez família no circo. Casou-se com uma integrante da trupe e hoje viaja acompanhado pela filha de sete anos, que já faz algumas apresentações com o pai.
Situações assim se repetem muitas vezes no circo, provando que o amor pelo picadeiro vem no sangue e não tem apenas uma especialidade. Os integrantes assumem vários papéis durante as apresentações. E apesar de parecer que a história da moça que fugiu com o circo é coisa de antigamente, isso ainda acontece. Nayara Moreto, 23, deixou para trás o cargo de executiva de vendas em uma multinacional de compras coletivas no interior de São Paulo para acompanhar o namorado, que conheceu no circo. Agora ela é uma das dançarinas da apresentação. “Ainda é tudo muito novo”, avalia.
Porém, junto com o amor é preciso muita dedicação. A formação e os treinamentos são fundamentais. “É essencial, todos aqui são profissionais”, ressalta a secretária administrativa Karina Kelly Gomes. “Muita coisa aprendi aqui e a técnica na escola. O tempero é do circo”, analisa o Homem Pássaro.
O globista Rafael Nino Júnior, 24, é outro exemplo da necessidade de profissionalização das atividades. Na sexta geração de família circense, já fez apresentações no globo da morte fora do País e como resultado conquistou uma medalha do Guinness. “Poderia fazer isso em qualquer lugar, mas quero fazer isso aqui, com o calor da plateia. Nasci fazendo isso e não quero trabalhar de outra maneira”.
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