Pulando a cerca no busão
Tribuna | 26 de março de 2014 | Foto: Brunno Covello/SMCS
Já falei aqui que a viagem de ônibus (dentro da cidade ou fora dela) é um momento que pode ser muito bem aproveitado. E isso vai conforme os compromissos de cada um.. A jornalista Louise Clemente, que está fazendo trainee aqui no jornal, acompanhou como um passageiro aproveitou o tempo de uma maneira não muito familiar…
“Estou acomodada no banco do ônibus com destino a Ponta Grossa há cerca de uma hora quando o motorista para. Um homem entra e senta-se ao meu lado. Fica difícil não prestar atenção nele: grande demais para o banco, ele demora para conseguir se encaixar. Alguns minutos depois, ajeita-se.
Pronto. Agora posso tentar voltar a dormir. Não. O passageiro resolve pegar dois celulares do bolso – homem com dois celulares não é bom sinal – com luzes de uma lanterna de caça, e começa a escrever mensagens de texto freneticamente. Eu, curiosa que sou, não pude deixar de correr os olhos para a tela. Eis que o conteúdo da mensagem é direcionado a certa Fulana e ele avisa que está indo a Ponta Grossa.
De repente, toca o outro celular. É a esposa do passageiro. Ouço a conversa: ela, irritada, quer saber que horas ele vai chegar. Ele, responde mal humorado que dentro de uma hora estará em casa. Desliga a ligação do celular número um. Volta às mensagens de texto e continua a falar com a tal Fulana pelo celular número dois.
Fico alerta. Cheiro de traição no ar. Olhos compridos para as mensagens. O passageiro avisa a Fulana que vai ficar durante todo o final de semana sem poder conversar e ligeiramente apaga apenas as mensagens destinadas e enviadas a ela. Antes de finalmente guardar os aparelhos no bolso ele verifica a caixa de entrada e envio novamente. Pronto. Tudo limpo. Alerta confirmado: a esposa tinha razão em cobrar o horário de chegada do passageiro.”
Isso me lembrou de uma outra situação que acompanhei há um tempo, quando voltava de Santa Catarina: nas poltronas da frente um casal cheio de amor pra dar. Beijos e mais beijos durante toda a viagem. E quando estamos quase na rodoviária de Curitiba, passando pelo Viaduto Capanema, o celular dela toca: “Oi amor. Estou saindo da rodoviária agora. Daqui umas duas horas eu chego em Curitiba”. Pra onde o casal foi eu não sei, mas eles ainda tinham mais duas horas antes do marido enganado chegar para buscar a moça na rodoviária…
Leitura de busão: A Menina que Não Sabia Ler. Autor: John Harding. (Literatura Estrangeira)
http://www.parana-online.com.br/colunistas/papo-de-busao/101885/PULANDO+A+CERCA+NO+BUSAO