Menos por mais

Tribuna | 23 de setembro de 2015 | Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

A cotação do dólar ultrapassou ontem a marca de R$ 4,00 – a maior desde o Plano Real – e chegou a valer R$ 4,50 em algumas casas de câmbio. No mercado oficial, o dólar comercial fechou em R$ 4,0538 e o turismo, em R$ 4,27.

Muito além das análises econômicas e políticas, a situação representa impacto no nosso bolso, que deve se preparar pra uma alta nos preços, especialmente dos produtos que têm relação direta com a moeda americana. A longo prazo, a situação pode ainda ameaçar a manutenção dos empregos.

O aumento nos preços acontece porque a negociação de importação ou exportação dos insumos acontece toda em dólar, apesar da produção ser nacional. “Boa parte dos insumos da indústria brasileira é dolarizada. Se o dólar fica mais caro, vem a inflação”, explica o economista da NeoValue Investimentos e professor de finanças Alexandre Cabral.

Desta forma, os efeitos da alta da moeda já devem ser sentidos no preço do trigo, e consequentemente no pão e nas demais massas que utilizam o produto, e da soja. A carne também pode ter aumento indireto, pelo consumo do milho pelo gado. O economista, porém, acredita que o aumento não deve ser tão grande, pelo momento da economia brasileira.

“Não deve ser muito pior porque a economia não está crescendo. A população não deve sentir a alta da inflação tão exagerada como se a economia estivesse crescendo”, avalia. “Se toda a alta do dólar for repassada pro consumidor, ninguém vai conseguir vender”, considera Cabral. Por outro lado, não está descartado o desemprego, já que o aumento do dólar não será totalmente repassado nos produtos e deve ser absorvido pelos empresários.

Dinheiro raro e mais caro
Outro impacto que deve ser sentido é a dificuldade de crédito, uma vez que os investidores consideram as condições de pagamento dos empréstimos e repassam juros mais altos quando há dificuldade de pagamento. “Dinheiro raro é dinheiro caro”, comenta o economista. A orientação é cortar os gastos supérfluos e fazer uma reserva de dinheiro, pro caso de problemas como o desemprego.

Publicidade
Já quem planeja uma viagem de férias pode apostar em destinos na América Latina ou nacionais, que valem mais a pena do que a Europa e os Estados Unidos, por causa da cotação. “Há um ano um dólar valia R$ 2,00 ou 10 pesos argentinos. Hoje vale R$ 4,00 ou 11 pesos. Precisa de mais reais pra mesma quantidade de pesos que o ano passado. Mas na América Latina ainda dá, principalmente ao sul. Na região da América Central a influência do dólar é muito mais forte”.

Pauta bomba atrapalha
Pelo menos três fatores contribuíram pro dólar disparar ontem. O principal foi a votação da chamada “pauta bomba” pelo Congresso Nacional, pra decidir pela manutenção ou rejeição dos vetos da presidente Dilma Rousseff aos projetos que aumentam os gastos do governo. Os 32 vetos da presidente representam um impacto de R$ 127,8 bilhões nos próximos quatro anos. Além disso, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, recebeu ontem representantes da agência Fitch Ratings, com a tentativa de evitar mais um rebaixamento do Brasil na classificação das agências de risco. “Um dos diretores do Banco Central americano também deu a entender que a taxa de juros dos EUA sobe esse ano. Por isso, as moedas dos países subdesenvolvidos estão desvalorizando”, completa o economista Alexandre Cabral.

Ele acredita que a alta do dólar deve se manter por um “bom tempo”, especialmente se for considerada a questão política, já que o Congresso Nacional não está apoiando a presidente Dilma. “Muita gente vai querer segurar o 13.º e não sair gastando, a não ser que o governo consiga convencer o Congresso”, prevê, já visua,lizando um Natal “bem ruim”.

http://www.tribunapr.com.br/noticias/economia/quem-perde-e-quem-ganha-com-a-alta-do-dolar-saiba-tudo/